Novembro ainda nem bem começou e eu já estou doida pra ele terminar logo. Não acho lá muita graça em novembros, um mês que me dá a sensação de que o fim do ano está logo ali na esquina, mas na verdade ainda tem um bocado de chão pela frente e a caminhada é morro acima e contra o vento.
Em novembro os meus alunos já estão cansados e muito mais preocupados com os problemas no trabalho ou as provas na faculdade, e a disposição para estudar qualquer outra coisa está bem próxima do zero absoluto. Em novembro já faz calor, mas o verão ainda vai levar mais de mês pra chegar, e aí de repente fica inesperadamente frio, em geral quando a gente sai de casa desprevenido ou manda o edredom pra lavar, porque de agora até abril, pelo menos em tese, deveria ser só de termômetro nas alturas. Mas invariavelmente chove nesta época do ano. Chove e faz calor, chove com vento e esfria, chove e inunda ruas, chove com vento e você tem que fechar as janelas e quase morre assado dentro de casa. Chove mais e a cidade tem engarrafamentos homéricos porque os semáforos param de funcionar, os motoristas perdem o pouquinho de bom senso e noção ainda disponíveis e você não lembra onde foi parar sua paciência zen-budista.
Em novembro a lista de pendências do ano TEM que diminuir e as pessoas circulam estressadas por aí, tentando resolver em um mês o que não foi feito em dez. É o mês das dietas malucas, porque dezembro vai ser aquela overdose de panetone e festas da firma e da família, um estrago que só vai aparecer pra valer na sua vida em janeiro, quando você for experimentar o modelito pra praia. É quando o gerente do banco e o operador de telemarketing dão aquela olhada no calendário e percebem que de jeito nenhum eles vão conseguir bater as metas em tempo hábil, e aí passam a te infernizar a paciência com ligações diárias oferecendo aquela promoção que não te interessa.
Novembro é o mês em que algumas pessoas importantes saíram da minha vida assim sem mais nem menos, é quando eu tento me organizar um pouco mais porque já sei que dezembro tem no máximo uns dez dias úteis, é quando eu vou ao supermercado e ao shopping e tem Papai Noel e luzes por todo lado mas eu ainda não estou no clima de Jingle Bells, ainda mais com a Simone avisando que então é Nataaal.
Em novembro eu estou exausta e quero ‘pedir altas’, em novembro tenho que começar a fazer o planejamento financeiro pro ano que vem, porque janeiro é aquela cacetada no bolso e o governo tem certeza que meu carro é um Rolls Royce e minha casa fica em Beverly Hills, e portanto os impostos devem ser recalculados segundo essa nova lógica. Novembro é quando eu só quero ler e assistir e conversar amenidades, porque minha bateria para discussões pertinentes está basicamente descarregada e o mundo, convenhamos, não está colaborando. E a única coisa boa que eu consigo pensar é que novembro, ao contrário de outubro, grazadeus tem só 30 dias…
Na radiocabeça
Let the music play loud
Let it burst through the clouds
And we all feel the heat of the Sun
Let us sing, let us shout
Let us all stand up proud
Let the old still believe that they're young
Mick jogando na nossa cara que, aos 80, idade é mesmo apenas um número.
Que voz, senhoras e senhores.
Eu nem achava novembro tão complicado assim, mas você me convenceu. Tomou o lugar de agosto, tradicionalmente o mês mais "problemático" do ano. Mas foi fácil substituir agosto por novembro nesse quesito. Ainda mais porque em agosto tem o aniversário de uma certa pessoinha, o que faz o mês ganhar muitos pontos a favor. Então, de agora em diante, vou passar a reclamar de novembro e deixar agosto em paz. Tenho dito!